Marc, le fou @lefoumarc

É próprio dos homens sentir compaixão dos necessitados, observa Giovanni Boccaccio, no proêmio do Decamerão, e devem dar mais provas disso aqueles que já precisaram da ajuda dos outros e foram por eles auxiliados, o que Curzio Malaparte lembra, com a devida referência, em A Pele.

O hábito dos "louvores", assim chamado e recomendado, de modo particular, por Tolkien, consiste em decorar e rezar antífonas em latim, dispensando palavras de júbilo, além de conhecer o Cânon Romano de cor, que deve ser recitado, com o coração, sempre que não se puder ir à Missa.

Três pessoas juntas formam um concílio, diz uma antiga sentença romana, que deixa as autoridades de sobreaviso, em O Homem que Ri, de Victor Hugo, e quando três homens se aliam, parece complementar uma canção, em 1919, de John dos Passos, os impérios contêm três escravos a menos.

A vontade do homem nem sempre vai prevalecer sobre o que a contraria, seja uma outra vontade ou algum acontecimento de natureza diferente, sendo necessária a sua educação, por meio da conformação com a vontade de Deus, para que ele volte o seu pensamento ao que realmente importa.

O erro é o principal responsável, como visto em A Base Física do Espírito, de Farias Brito, pelas dissensões e convulsões sociais que perturbam o convívio humano, ao qual se antepõe a verdade, que, reinando no seu lugar, seria a promotora do estado de paz que a humanidade anseia.

O desapego aos bens materiais é um ensinamento comum nas doutrinas de Buda, de Cristo e dos filósofos estoicos e cínicos, como anotado por Soljenítsyn, no Arquipélago Gulag, e um mandamento que, se não devidamente assimilado, pode se tornar a causa principal da ruína de uma alma.

As Escrituras falam de dois homens existentes no ser humano, conforme Mestre Eckhart, o externo (homem velho, terreno, pessoa externa, inimigo e servo), dado aos sentidos, e o interno (novo homem, celeste, homem interior, jovem, amigo e aristocrata), que aspira às coisas do alto.

O verdadeiro cristão não é só aquele que foi batizado, confirmado e que vai à Missa, condição de muitos ditos católicos, mas, como acresce Erasmo, em A Educação de Um Príncipe Cristão, o que aceitou a Cristo autenticamente no coração e manifesta isso ao agir com espírito cristão.

O Manual do Cavaleiro Cristão, de Erasmo, escrito sob determinadas circunstâncias, é uma leitura proveitosa para religiosos e leigos, como a Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, e poderá ter sua compreensão estendida se auxiliada pelos Conselhos Espirituais, de Mestre Eckhart.

A verdadeira obediência, tratada por Mestre Eckhart, nos Conselhos Espirituais, é a virtude que promove a abnegação da vontade, ou renúncia de si mesmo, estado em que o homem se torna pobre em espírito, como Cristo se refere, e condição sine qua non na doutrina da união com Deus.

A aposta da fé, de Pascal, lembrada por Greene, em O Americano Tranquilo, comporta um ponto de Cícero, em Saber Envelhecer, diálogo no qual, para um personagem, pouco importa se a outra vida não existir, porque não haverá ninguém para comprovar essa crença, caso ela esteja certa.

A Consolação da Filosofia pode induzir a pensar, pelo título, que terá um estilo semelhante ao de outros filósofos, mas a Filosofia é apresentada como uma distinta dama, e Boécio usa a Retórica e a Música, prosa e poesia, como instrumentos para conduzi-lo à verdadeira felicidade.

Negroni Sbagliato, ou errado, é outra versão, assim como o Boulevardier, do drink Negroni, mas que usa espumante, no lugar do gin, como este, e do uísque, como aquele, com Campari e Martini Rosso, proporcionando um sabor característico que é igualmente muito agradável ao paladar.

O demônio, ou a projeção mental que assume suas feições em espíritos impressionáveis, sempre esteve em evidência, como mostra Aldous Huxley, em Os Demônios de Loudun, mas se ocupar mais com isso do que com Deus é coisa de cristão invertido, para usar a expressão do próprio autor.

A Utopia, república decididamente digna de ser imitada pelos cristãos, do livro de Thomas More, tinha seus magistrados solicitados por outros países para auxiliar na condução das leis, significando que o problema não é a intervenção estrangeira em si, mas uma que seja perniciosa.

A Ilha dos Feiticeiros é um lugar, nas Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, onde os espíritos dos mortos podem ser evocados, o que acontece com Aristóteles, que pergunta se os demais comentadores das suas obras eram tão asnos quanto Duns Scott e Ramus, que estavam diante dele.

O episódio em que Odisseu, na Odisseia, de Homero, sobrevive ao encontro com um ciclope, por ter respondido, quando aquele o perguntou quem era, se chamar Ninguém, é um exemplo, útil em todos os momentos, do quanto o anonimato, em detrimento da ânsia de ser reconhecido, é um bem.

– Por que o nome do gato é Pual? – Porque ele também me chama de Yamcha.

O monólogo surte o efeito de uma conversa com a deidade interior, para Victor Hugo, em O Homem que Ri, mas ninguém pode manter um sozinho por muito tempo, porque outra voz se fará ouvir, escreve Graham Greene, em O Cerne da Questão, e ele, cedo ou tarde, se tornará uma discussão.

É extremamente difícil destruir os altares que erigimos para os nossos deuses pessoais.